FLUXOS MIGRATÓRIOS NA EUROPA E NA AMÉRICA
LATINA
AUTORES: Fernando Santos, Irina Moura, Otávio Santos, Rosenilda
Fontes e Sara Lima.
RESUMO:
O artigo a seguir aborda o intenso fluxo de pessoas na Europa e na América
Latina nos últimos tempos, abordando fatores que levaram a esse fluxo, características
e consequências.
PALAVRAS CHAVE: Fluxos migratórios, Europa, sírios,
xenofobia, Brasil.
INTRODUÇÃO
Um
dos assuntos mais discutidos e questionados no mundo hoje se refere ao
deslocamento de pessoas de uma região do globo a outra. A discussão quanto a
este assunto, porém, suscita dúvidas. Por que está acontecendo tais
deslocamentos? Quais os principais destinos das pessoas? Como essas ações estão
acontecendo? E por fim, quais as consequências de tudo isso? É preciso voltar
no tempo para entender como tudo isso começou. Para total compreensão do
assunto informações de anos atrás, e do presente momento, foram então
relacionadas para provar que ações anteriores podem sim ser as fontes dos
problemas atuais, que alguns apontam dentro dos fluxos de migração. Por conta
de tudo isso a xenofobia volta a entrar em pauta, a abertura de fronteiras para
refugiados também, assim como a violência trazida pelo terrorismo. E, por fim,
o conceito de fluxos migratórios fica como que turvo, ou embaçado, por causa de
todos os problemas que o cercam.
Denominamos
fluxos migratórios o ato de se locomover, ou se mudar, do seu país de origem
para outro país. Estes fluxos geralmente são motivados por respectivas mudanças
na vida dos imigrantes, como por exemplo a busca por instabilidade financeira,
fugir da miséria, dos conflitos civis, conflitos religiosos, perseguições
terroristas e de cenários deixados por desastres naturais (terremotos,
furacões, tsunamis etc.), em um resumo a busca de uma vida melhor. Esta
movimentação faz parte da história da humanidade. Porém temos presenciado nos
últimos tempos um aumento de imigrantes chegando as fronteiras europeias. Quais
são os motivos?
A Guerra na Síria e seus recentes resultados
A
partir do fim de janeiro de 2011, mais especificamente do dia 26 daquele mês, a
Síria passou a lutar contra um adversário impiedoso: A própria Síria. Essa
guerra cívica resultou em uma grande destruição no território nacional, a
desorganização da estrutura política e a morte de milhares de pessoas, muitas
em combate, mas muitas outras de forma inocente. Mas o que motiva essa guerra? A
maior parte do povo sírio deseja a saída do presidente, e ditador, Bashar
Al-Assad que está no poder desde 2000, após a saída de seu pai do poder. Porém
a reação do presidente foi no mínimo ríspida, pois convocou o exército para
lutar contra qualquer opositor ao seu governo, seja ele manifestante ou um não
apoiador. As manifestações no país começaram de forma pacifica, mas com o
passar do tempo tomou outras proporções o que levou a guerra. Como consequência
a tudo isso, além das que são facilmente perceptíveis aos olhos dos sírios,
como a miséria, a pobreza e a destruição territorial, milhares de sírios tem se
deslocado de sua terra natal para outros destinos, mas em especial a Europa.
Mas por que a Europa? Não seria mais fácil buscar ajuda nos países vizinhos?
Essa era a prática adotada em tempos atrás, onde os sírios procuravam o auxílio
da Líbia, de Israel ou do Líbano, porém isso mudou a partir do momento em que
esses países passaram a rejeita-los alegando que estes sírios poderiam ser
agressivos, contrários a ideologia do país, ou até mesmo terroristas, como uma
verdadeira fonte de ameaça. Como uma saída para este problema, a não aceitação
de países vizinhos, migram para a Europa, ainda que estejam arriscando suas
vidas, levando em conta os atrativos europeus. Os atrativos se referem a
facilidade de entrar no território europeu, as oportunidades de empregos que
por consequência vai trazer uma aparente melhora na condição de vida, e o
abandono da condição de miséria. Milhões de pessoas deixaram a Síria em direção
à Europa. Países como Alemanha, Itália e Grécia receberam esses imigrantes de
braços abertos. Entrando mais de 13 mil na Alemanha, 235 mil na Grécia e 115
mil na Itália. Outros se opõem à entrada desses imigrantes, citando como por
exemplo a Hungria, o Reino Unido e a Dinamarca. Mas qual é o real interesse
dessa aceitação?
Os europeus têm uma expectativa de vida alta e baixo índice de
natalidade. Ao aceitar imigrantes a Europa, tem a garantia de que a sua
população não irá diminuir. Outro fator que determina essa aceitação é que numa
estratégia de levantar a sua economia, determinados países recebem imigrantes
que aceitam trabalhar em troca de salários muito baixos, já que sua expectativa
é mudar de vida, salários esses que cidadãos europeus não aceitariam. Essa
ideia, considerada repugnante para alguns, faz lembrar a posição do filósofo
Immanuel Kant, que prezava a valorização do ser humano de forma igual. Se
vivesse nos dias atuais Kant veria uma atitude totalmente contrária ao seu
pensamento, pois a mão-de-obra por parte dos imigrantes é barata, o que faz
baixar o valor dos produtos e que voltam a circular no mercado internacional,
consequentemente. Além do mais por terem um alto nível de escolaridade, e
formação profissional, cidadãos europeus não aceitam trabalhar em determinadas
funções, sobrando vagas nessas áreas. Daí os imigrantes as ocupam.
Precaução ou Xenofobia?
A
globalização tem facilitado os fluxos de imigrantes pelo mundo, uma vez que os
meios de transporte, a informática, os meios de comunicação têm avançado cada
vez mais. Isso tem possibilitado que imigrantes mesmo em países distantes
possam sustentar suas famílias e isso é bem visto por estes. Porém a facilidade
quanto a entrada no território europeu não significa a aceitação dos habitantes
do velho continente. Isso fica bastante evidente nos muitos casos de xenofobia
relatados nos últimos tempos. Boa parte dos europeus não aceitam a entrada
desses imigrantes. Mas por quê? Isso acontece por medo, aversão ou temor, de
que os imigrantes ocupem seu espaço na sociedade e não venham a aderir a
cultura europeia, permanecendo com suas próprias culturas, idiomas nativos e
tradições. Além disso a xenofobia também é impulsionada pela preconceituosa
ideia de que os povos estrangeiros são os culpados pela desaceleração no que
diz respeito ao ritmo de crescimento da economia. Outro contribuinte para
incidentes xenofóbicos é o fato de que a Europa tem se tornado um continente
altamente miscigenado visto que muitos grupos estrangeiros têm ganhado forças e
crescido dentro do território europeu, levando a uma descaracterização da
identidade europeia. Tudo isso tem favorecido para existir uma rixa, ou
disputa, entre europeus e imigrantes agravando cada vez mais a situação. Um
último motivo que tem sido até mesmo usado como base para justificar a
xenofobia é o risco de atentados terroristas. Os atentados na França, que
aconteceram recentemente, trouxeram a mente dos milhares de europeus uma
questão muito importante: como os terroristas conseguiram entrar na Europa sem
serem percebidos? Tudo indica, devido a claras evidências, que por meio das
rotas de refugiados. Investigadores franceses afirmam com convicção que foram
encontradas na Grécia impressões digitais, como registro, de um dos
homens-bomba em um dos postos de controle de refugiados. Além disso, passa
portes dos terroristas foram encontrados e um aponta a passagem pela Grécia
antes da entrada em solo francês. Por conta desses fatos o medo e insegurança
dos europeus só aumentam.
O Brasil é logo ali
Desde
o início da guerra na Síria o Brasil tem sido um dos principais destinos dos
sírios. Isso acontece não apenas por causa das guerras, perseguições e miséria.
Um fator muito influente para isso é que o Brasil se mostrou de braços abertos,
como um verdadeiro país receptivo e acolhedor. Se no início da guerra
aproximadamente 20 vistos eram emitidos mensalmente de sírios para a vinda para
o Brasil, hoje já são mais de 20 vistos emitidos semanalmente. Apoiando a tese
de que os sírios que fogem de seu país natal não fogem apenas por causa da
pobreza e sim por estarem em busca de paz, tranquilidade e distância dos
conflitos violentos observa-se pessoas de diferentes níveis socioeconômicos
chegarem ao território brasileiro. Nesta descrição podem ser inclusos pobres e
ricos, desde pessoas de baixa renda e escolaridade a indivíduos bem-sucedidos
financeiramente e pós-graduados. Muitos destes sentem-se atraídos ao Brasil por
saberem que no país já existem muitos outros sírios, e descendentes de sírios,
vindos para cá no século 19. Ainda é preciso ter em mente que a vinda para o
Brasil se torna uma fuga segura, visto que a ida para o continente europeu,
além de muito arriscado, tem ceifado a vida de muitos.
Algo
que se assemelha bastante com a vinda dos sírios para o Brasil nestes últimos
tempos é o fluxo intenso de entrada de haitianos também no território
brasileiro. Isso por causa de um acontecimento datado em 12 de janeiro de 2010.
Os haitianos nunca esquecerão tal dia. Era fim de tarde quando o país sofreu um
terrível terremoto, diagnosticado como sendo de grau sete na escala Richter. A
falta de estrutura do país contribuiu, grandemente, para que milhares de vidas
fossem perdidas. O cenário era de um verdadeiro caos, pior do que em filmes,
muitos destroços, casas e prédios ao chão, mortos em todo lugar, pessoas
debaixo dos escombros, crianças sozinhas após perderem seus pais. Para piorar a
situação deve-se ter em mente que as condições ambientais no país não eram
boas, a política era muito conturbada e a economia haitiana sofria e esses
fatores apenas agravaram a situação. A terra não chacoalhava mais, porém a
insegura era clara. Mas, em meio a todo esse sofrimento, surge uma oportunidade
única, à volta por cima, a chance de algo melhor: Países abrem suas fronteiras
para milhares de haitianos. Um desses países foi o Brasil, que ao fazer isso
deu esperança de um futuro melhor, promissor, aos haitianos. Essa esperança, ou
expectativa, aliadas a catástrofe ocorrida naquele país, o Haiti, fez com que
milhares de pessoas saíssem dali e migrassem para o Brasil naquele mesmo ano de
2010. Por volta desse período duzentos haitianos, de forma rápida, conseguiram
adentrar em terras brasileiras. Porém hoje o número hoje é muito maior. Por
quê? Isso se deve a outro desastre natural no Haiti que foi o Sandy, nome dado
a um furacão, que teve um efeito ainda mais degradante no país, trazendo
condições de vida terríveis aos habitantes. Esse fator se aliou a
solidariedade, do Brasil que simplesmente abriu suas portas. Como consequência
hoje o país abriga mais de 50 mil haitianos por todo o Brasil. Muitos trabalham
quase como escravos, não se pode esconder isso. Porém, mesmo nessa situação, os
haitianos encontram no Brasil a esperança que eles já achavam não ter. Não
apenas os haitianos, mas outros imigrantes que vivem em solo Brasileiro também.
Podemos
perceber que no início da crise em 2008 o número de latinos que queriam se
mudar para Europa começou a diminuir de uma maneira firme, ao mesmo tempo
podemos perceber um grande número de cidadãos deixando os seus países em busca
de uma boa qualidade de vida na América Latina. Na Espanha, por exemplo, de uma
forma absurda entre o ano de 2007 e 2008 a saída de cidadãos quase triplicou.
Em anos recentes estimava-se que na América Latina existiam 8,5 milhões de
imigrantes e que destes, cerca de 1,1 milhão tinham vindo de países da Europa.
Apesar da crise, que afetou o mundo inteiro, o fluxo migratório para a América
Latina estava atingindo índices surpreendentes. A maior porcentagem desses
imigrantes era formada por jovens, geralmente solteiros, com bom nível de
escolaridade e formação superior, que objetivavam um crescimento profissional
longe de suas terras natais. Muitas mulheres também aderiram a esta migração,
que buscavam um emprego e uma condição de vida melhor, para poderem enviar
parte do que ganhavam para seus familiares em sua terra de origem. Os
principais destinos de ambos os grupos eram o Brasil, mas muitos também optaram
pelo México e Argentina.
Mediante
tudo que foi abordado compreende-se que os fluxos migratórios para alguns é um
meio de fugir dos problemas, já para outros representa a fonte dos problemas.
Em ambos os casos argumentos são apresentados. Por exemplo para os imigrantes
essa migração é a saída para a miséria, guerras e violência. Para quem os recebe
eles representam uma ameaça, quer seja por ocupar vagas de emprego, quer seja
pela suposição de serem terroristas ou facilitarem a entrada deles. Mas o que
pode ser feito para solucionar essa problemática? Uma possível solução seria a
Europa, como um todo, permitir a livre entrada de imigrantes desde que sejam
fiscalizados e a partir daí sejam legalizadas a permanência no país. Além disso
poderiam ser criadas rotas migratórias legais, aliadas a postos de controle, para
que o fluxo não se torne desordenado. Ainda mais, os europeus precisam reformar
a sua o seu pensamento, eliminando qualquer traço xenofóbico. Por fim uma
ressalva: não existem donos de territórios, mas como deixa claro o artigo 13 da
Declaração Universal dos Direitos Humanos qualquer pessoa pode deixar o seu
próprio país, e a residir dentro das fronteiras de qualquer um Estado, ou
lugar.
REFERÊNCIAS: